Introdução
Em uma noite de janeiro de 2002, um grupo de investigadores do grupo de pesquisas paranormais visitou um hospício abandonado ao sul de Chicago, Illinois. O hospital tinha um passado sombrio. Antes de ter sido fechado, nos anos 70, ele abrigava insanos que cometeram crimes. Ocasionalmente, os funcionários do hospital executavam criminosos por eletrocussão.
A equipe de investigadores andou pelo sanatório estadual de Manteno gravando fitas de áudio e vídeo enquanto caminhava. Eles não ouviram nem viram nada estranho enquanto estavam lá, mas, quando rebobinaram a fita de vídeo, descobriram algo muito surpreendente. No hospital vazio e sem energia elétrica, eles ouviram muito claramente o som de uma voz feminina chamando "Dr. Martin" ("Martin" é o melhor palpite, eles não estão completamente certos do nome do médico).
A voz foi gravada pelo Southern Wisconsin Paranormal Research Group (em inglês), grupo de pesquisa paranormal do sul de Winsconsin, uma das muitas organizações no mundo todo que estuda o fenômeno da voz eletrônica (FVE ou EVP, em inglês). FVE é a gravação de sons e vozes emfitas cassete, videocassetes e outros dispositivos eletrônicos. Aqueles que investigam o fenômeno dizem que as gravações são as vozes de espíritos tentando se comunicar conosco. Os céticos dizem que a FVE é apenas uma interferência de rádio ou peças pregadas por nossa mente.
Neste artigo, vamos descobrir como os pesquisadores estudam o fenômeno da voz eletrônica, descobrir alguns dos argumentos pró e contra sua existência e ouvir algumas das vozes extraordinárias que foram capturadas em fita.
O que é o fenômeno da voz eletrônica
Muitas das pessoas que gravam regularmente essas vozes dizem que elas são de espíritos: vozes de homens, mulheres e crianças que morreram e tentam se comunicar do além-túmulo. Como os espíritos não possuem mais um corpo com cordas vocais, eles não podem realmente "falar". Em vez disso, diz a teoria, eles usam sua energia para manipular eletronicamente o som de uma forma que se assemelha à voz falada.A FVE é a gravação de vozes do outro mundo em fitas cassete, gravadores de rolo e outros equipamentos de gravação. Uma expressão mais recente para o fenômeno,transcomunicação instrumental (TCI), se refere especificamente à maneira pela qual as vozes são gravadas usando tecnologia.
As vozes raramente são ouvidas durante a gravação, mas somente durante a reprodução. Elas podem ser faladas tão baixo que mal podem ser ouvidas, ou tão distorcidas que precisam ser ouvidas várias vezes para se determinar seu significado. As palavras podem estar em qualquer idioma, e até mesmo estar em uma combinação de idiomas (chamada poliglota). Às vezes, a voz responde a perguntas ou se dirige diretamente ao pesquisador. Ela pode chamar a pessoa pelo nome ou mencionar algo muito pessoal para o pesquisador. Algumas vezes, a voz soa como se estivesse cantando.
Os pesquisadores classificam as gravações com base em sua audibilidade:
- classe A - as vozes estão muito claras e facilmente compreensíveis;
- classe B - as vozes são razoavelmente altas e claras e algumas vezes audíveis sem fones de ouvido;
- classe C - as vozes são faladas muito baixo e freqüentemente indecifráveis.
Independentemente de quão clara é a gravação, as vozes raramente falam por mais de uns poucos segundos de cada vez. Os pesquisadores gastam horas ouvindo várias vezes para decifrar o significado por trás de apenas alguns segundos de som.
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Como o FVE é gravado
Foto cedida por Amazon.com O FVE pode ser gravado usando um gravador de fita cassete comum. |
As pessoas que estudam o FVE usam diversos tipos de dispositivos para gravar os sons. Eles podem usar gravadores de fita cassete, de rolos à moda antiga ou gravadores digitais mais modernos. A maioria dos pesquisadores diz que o custo do gravador não é importante: gravadores baratos funcionam tão bem quanto os mais caros.
Eles instalam um microfone externo no gravador, com cabo suficiente para evitar captar o próprio som do gravador. O microfone externo também possibilita que o pesquisador grave seus próprios comentários durante o processo. Fones de ouvido são usados freqüentemente porque muitas das vozes são baixas e difíceis de ouvir de outro modo.
Jennifer Lauer, diretora e fundadora do Southern Wisconsin Paranormal Research Group, é chamada regularmente por proprietários de empresas e casas para documentar atividades paranormais. Ela descreve o processo de gravação usado por sua equipe:
Vamos até o local e entrevistamos as testemunhas e descobrimos o que está acontecendo, o que eles estão vendo e ouvindo. Também fazemos leituras de equipamentos para assegurar que o que eles estão sentindo não é um campo eletromagnético ou ondas de rádio.
Gravamos o FVE de duas maneiras diferentes, dependendo do tipo de assombração que parece ser. O FVE pode ser um tipo de energia residual. Ele pode ser uma amostra do que aconteceu em algum momento e que se reproduz como um filme. Se for uma assombração residual, deixamos o gravador em uma sala para ver se captamos alguma coisa.
Com uma assombração inteligente [o que significa que um espírito real está presente], podemos fazer perguntas porque sabemos que poderemos obter respostas. Nós nos sentamos em um grupo de 4 a 6 pessoas. Colocamos o gravador em uma posição central em relação a todos nós. Um por um, fazemos uma pergunta a quem quer que esteja na sala. Depois das perguntas, permanecemos cerca de 20 segundos em silêncio para que ela possa ser respondida e então a próxima pessoa faz outra pergunta.
Depois de fazer a gravação, os pesquisadores ouvem a fita várias vezes, prestando atenção a qualquer som que se assemelhe a uma voz. Eles podem usar um computador para analisar quaisquer vozes que surjam. Aqui está um exemplo do processo analítico usado em The Ghost Investigators Society (A Sociedade de Investigadores de Fantasmas):
Forma de onda: esta tela mostra o padrão de uma voz diretamente depois de ser colocada no computador para análise
Tela de estatísticas: depois de visualizar o padrão de ondas, os pesquisadores visualizam as estatísticas de forma de onda. Essencialmente, isso fornece a constituição da própria amostra de voz, como o passo, a amplitude e a taxa de amostra.
Cedido por The Ghost Investigators Society (A Sociedade de Investigadores de Fantasmas)
Gráfico de análise: depois de visualizar as estatísticas da forma de onda, os pesquisadores comparam os resultados ao gráfico da análise. Depois disso, eles consideram todas as informação colhidas da forma de onda e determinam se a amostra de voz é um FVE ou simplesmente um som acidental captado pelo microfone.
Os pesquisadores também podem usar um software para tornar o som gravado mais audível. "Eu uso o software para remover o ruído de fundo, reforçar a intensidade de suas vozes ou remover sons de cliques ou chiado da gravação", explica Dave Oester, Ph.D., co-fundador da International Ghost Hunters Society (Sociedade Internacional dos Caçadores de Fantasmas). "Alguns FVE não requerem nenhuma filtragem, são muito claros. As vozes do FVE são cheias de emoções e nunca são monótonas."
Quando usam um gravador de fita cassete ou de rolos muito silencioso, os pesquisadores freqüentemente usam o ruído de um ventilador, estática de rádio ou murmúrios de vozes pré-gravadas, geralmente em um idioma estrangeiro, durante a reprodução, porque dizem que o ruído de fundo ajuda as vozes a se formarem na fita. A teoria é de que o comunicador traduz o ruído em palavras.
O FVE é real
"Algumas das 'vozes' são mais provavelmente pessoas criando significado a partir de ruído ao acaso, um tipo de pareidolia [a ilusão de que algo obscuro é real] ou apofenia [conexão mental não relacionada a fenômenos] auditivas", escreve Robert Carroll, Ph.D., em seu Web site, The Skeptic's Dictionary (em inglês). Existe a versão em português, o site Dicionário Cético.Nem todos acreditam que as vozes que os pesquisadores de FVE ouvem são de espíritos do outro mundo. Alguns céticos dizem que o FVE não passa deinterferência de rádio. Outros dizem que as pessoas que alegam ter ouvido essas vozes estão imaginando ou que suas mentes estão criando um significado a partir de sons insignificantes, projetando o que a pessoa quer ou espera ouvir na gravação.
"As pessoas são excepcionalmente maravilhosos em encontrar padrões no ruído", diz Edwin C. May, Ph.D., presidente dos Laboratories for Fundamental Research (em inglês) (Laboratórios para Pesquisa Fundamental). "O equipamento de nosso sistema sensorial é projetado para ver mudanças nas coisas." Assim, quando ouvimos sons repetidos, nossocérebro capta e interpreta aquilo que soa para nós como palavras faladas. Se você ouvir milhares de trechos de áudio, contesta o Dr. May, eventualmente encontrará um que soe como uma voz. Os pesquisadores de FVE contestam, afirmando que a comunicação altamente interativa que estabeleceram seria impossível de desqualificar como interferências ou peças pregadas pelo cérebro. "Eu sou operador de radioamador há 40 anos, e nunca vi gravadores de fita ou digitais captarem uma interferência artificial", diz Oester. "Além disso, como pode um FVE interativo, em que o espírito está respondendo perguntas ou comentando minhas palavras, ser considerado interferência"
História do FVE
Foto cedida por Edison National Historic Site Site Histórico Nacional Edison Thomas Edison |
Um dos mais respeitados cientistas do mundo, Thomas Alva Edison, acreditava que um dia seria possível construir uma máquina que ajudaria os humanos a se comunicarem com os mortos. Ele disse uma vez:
- Se nossa personalidade sobrevive, então é estritamente lógico ou científico supor que ela retém a memória, o intelecto, outras faculdades e o conhecimento que adquirimos nesta Terra. Portanto, se pudermos desenvolver um instrumento tão sensível que seja afetado por nossa personalidade enquanto ela sobrevive na próxima vida, tal instrumento, quando tornado disponível, poderia gravar alguma coisa.
Infelizmente, Edison não viveu para ver essa invenção se materializar.
Em 1949, Marcello Bacci, italiano, começou a gravar vozes com um velho rádio a válvulas. As pessoas vinham à casa de Bacci para falar com seus parentes falecidos. Poucos anos mais tarde, dois sacerdotes italianos, padres Ernetti e Gemelli, tentavam gravar um canto gregoriano em seu magnetofone, mas a máquina continuava empurrando. Cansado com os fracassos, o Padre Gemelli implorou a ajuda de seu pai. Para sua surpresa, a voz de seu pai falecido respondeu pelo magnetofone: "É claro que eu o ajudarei. Eu estou sempre com você."
Um dos mais bem conhecidos pesquisadores de FVE do século 20 foi um cantor de ópera, pintor e produtor de filmes sueco chamado Friedrich Jurgenson. Seu interesse no fenômeno da voz eletrônica foi iniciado em um dia de 1959, quando gravava os sons de pássaros cantando em uma floresta. Quando ele reproduziu a fita, ouviu uma voz feminina dizer "Friedrich, você está sendo observado. Friedel, meu pequeno Friedel, pode me ouvir?". Era a voz de sua mãe falecida. Jurgenson continuou a gravar muitas outras vozes ao longo dos 4anos seguintes e publicou 2 livros: "Telefone para o além" e "Radio Contact with the Dead" (Contato de rádio com os mortos, não traduzido para o português).
Konstantin Raudive, psicólogo da Letônia, ouviu falar dos experimentos de Jurgenson muitos anos mais tarde. Inicialmente ele era cético, mas então experimentou por si mesmo a técnica e acabou gravando muitas vozes, incluindo a de sua mãe falecida.
Nos anos 60 e 70, o FVE se tornou um braço legítimo, apesar de controverso, da pesquisa paranormal. Os pesquisadores americanosGeorge e Jeanette Meek e o médium William O'Neil gravaram centenas de horas de FVE com osciladores de rádio. Eles alegam ter trabalhado intimamente com outro cientista, dr. George Jeffries Mueller. O único problema é que Mueller estava morto.
Sarah Estep, uma das pesquisadoras de FVE mais desenvoltas, fundouAmerican Association of Electronic Voice Phenomenon, AAEVP, Associação Americana do Fenômeno da Voz Eletrônica (em inglês), em 1982. Ela alega ter se comunicado com milhares de fantasmas e também com alienígenas.
Pesquisadores em todo o mundo continuam a investigar o FVE. Seus achados estão documentados em dúzias de Web sites e também em livros.
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